Perdido no outono.

POR DETRÁS DA IMAGEM

Texto e fotografia por Miguel Serra

Na fotografia, assim como noutras ocasiões do nosso dia a dia, adotar uma atitude solta de estereótipos será meio caminho para conquistas surpreendentes. A cada saída fotográfica devemos arriscar, no sentido de evitar o óbvio e aceitar, com a máxima naturalidade, a descoberta do inesperado.

Dito isto, foi dessa forma que aconteceu a realização desta imagem, num final de tarde, onde o declínio da estação do Outono marcava a paisagem, no dia 27 de novembro de 2022, na zona do Poço do Inferno, em Manteigas, mais concretamente sob o Vale de Leandres.
As neblinas deslizavam entre as copas das árvores, num sobe e desce inconstante. Perante este cenário, o mais certo seria aproveitar o entardecer e concentrar-me no Vale de Leandres, como principal objeto do meu enquadramento.
Mas a opção pela utilização da teleobjetiva denunciava uma composição mais audaz e genuína. A chuva persistente não ajudava à necessária e recomendável concentração. Ao longo desses largos minutos de contemplação, era importante dar toda a atenção à movimentação das neblinas para captar o melhor momento, com o olhar fixo no topo da montanha.
Um registo que marcou o ano de 2022, sob o título “Lost in Autumn” (“Perdido no Outono”).

Composição
Simples e ao mesmo tempo carregada de misticismo. Uma composição que me deixa muito satisfeito, por ter conseguido algo distinto do que já tinha realizado anteriormente naquele local, de forma inesperada. Os cantos suaves, levam imediatamente o espetador a mergulhar na cena.
Os pinheiros preenchem uma diagonal sublime, entre o canto superior esquerdo e o canto inferior direito, libertando o restante espaço do formato 3:2 para o imaginário de cada observador. A diagonal da imagem e os cantos, aparentemente vazios de informação, complementam-se, tornando a fotografia visualmente equilibrada. Os triângulos das copas das árvores acabam por vincar e realçar o sujeito na paisagem.
Confesso que inicialmente comecei por centrar os pinheiros. Mas a opção final incidiu por aproximar essa mancha ao terço do lado esquerdo, estabelecendo uma narrativa mais coerente e apelativa.

Dicas
Como já referi na nota introdutória deste artigo, no terreno o fotógrafo deve dar asas à sua imaginação e não se sentir oprimido na busca pelo imprevisível. Neste caso concreto, teria sido mais confortável prender o meu olhar nas cores outonais que pontuavam a paisagem e trabalhar com as neblinas sobranceiras ao Vale de Leandres.
Tendo como referência outras abordagens fotográficas deste local já anteriormente materializadas, a opção recaiu sobre num novo conceito, aproveitando a luz difusa.
Simplificar a cena e criar uma ilha de pinheiros entre a neblina, foram os principais atributos.

Processamento
Depois do registo efetuado, guardei para mim que este momento deveria transmitir, acima de tudo, serenidade e surrealismo.
Após a visualização do ficheiro RAW original, foram poucos os ajustes em pós-processamento até chegar à premissa inicial, onde a luz natural e a técnica aplicada ajudaram muito na construção da imagem.
No “Adobe Camera Raw” decidi começar por subir ligeiramente a exposição, aumentar consideravelmente os realces e reforçar ligeiramente as sombras e os brancos.
Por fim, acrescentei alguma vibração e ajustei o equilíbrio de brancos para tornar a fotografia suavemente mais fria, em tons de azul delicados. Por norma, trabalho com o balanço de brancos em modo automático.

Configurações da câmara
Câmara: Fujifilm XT4
Objetiva: XF 50-140mm F2.8 R LM OIS WR

Distância focal: 83,80mm / Exposição: 1/25seg / Abertura: F6.4 / ISO: 400 / Com tripé

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