POR DETRÁS DA IMAGEM
Texto e fotografia por Miguel Serra
Conto-vos a história de uma fotografia registada no dia 10 de abril de 2021, na encosta de São Lourenço, em Manteigas. Uma paragem sobejamente conhecida e percorrida, principalmente, na estação outonal, vulgarmente conhecida por Faias de São Lourenço.
Naquela manhã de Primavera incipiente, foi deslumbrante caminhar pelo bosque das faias. Depois de um amanhecer carregado de nuvens e chuva fraca, era altura de trilhar caminho, entre um manto sumptuoso de neblinas que deambulavam nas encostas sobranceiras à vila de Manteigas.
Prometia ser uma jornada extraordinariamente bela e revigorante. À medida que subia a encosta, o local tomava conta de mim, perante tamanha beleza. A névoa densa, o verde luxuriante e a luz difusa eram a simbiose perfeita!
Os registos fotográficos sucediam-se entre os pseudotsugas majestosos e as faias esbeltas, estas num cativante início de ciclo de vida. A ambiência daquele momento primaveril, facilmente conduzia a minha imaginação para o cenário cinematográfico mais idílico de Hollywood.
Gradualmente, a precipitação aumentava de intensidade. Num último fôlego, procurava manter o foco na interpretação pessoal e intimista da paisagem.
Uma manhã solitária, contrastante com a azáfama que aquele lugar está sujeito no auge do Outono. É desta forma que gosto de abordar os locais. Fora da altura de maior pressão, mas onde o interesse fotográfico se mantém, aliado às condições atmosféricas.
Um registo que fica associado também ao facto de que as maiores oportunidades fotográficas surgem onde vivemos, pois é aí que temos à partida a maior disponibilidade para fotografar e exercer as opções mais assertivas.
Esta imagem – e outras também desta manhã – integra a série fotográfica “Spring fog” (“Nevoeiro de Primavera”).
Composição
Os três troncos, alinhados verticalmente no terço à direita, são a chave desta cena, aliados aos ramos de folhagem juvenil das faias que adornam e complementam a composição.
Importante destacar o papel dos ramos que rasgam a imagem no sentido horizontal e conferem o equilíbrio necessário, bem como o conjunto de folhas no canto superior direito.
Num segundo plano, as faias que se perdem na bruma, elevam a imaginação para o restante bosque encantado, seja qual for a estação do ano.
Dicas
Nesta abordagem, destaco a neblina e, subsequentemente, a luz difusa. O nevoeiro é um ótimo elemento natural que auxilia o fotógrafo a separar os sujeitos e a tornar a paisagem misteriosa. A luz ténue reduz o contraste entre as zonas de altas luzes e as próprias sombras.
Tendo em conta o bom desempenho da maioria dos atuais equipamentos fotográficos, nomeadamente ao nível de estabilização da imagem, o tripé é cada vez menos essencial neste tipo de fotografia. A imaginação torna-se ágil e o ritmo da composição solta-se dessa amarra, tonando-se por certo mais criativa.
Relativamente ao tempo de exposição, deve-se ter em conta uma velocidade do obturador suficientemente rápida, de forma a congelar o movimento dos ramos e das folhas das árvores.
Para além das condições naturais e da técnica fotográfica, a interpretação pessoal da paisagem será sempre o melhor desígnio. O fotógrafo deve ser genuíno, obviamente influenciado por diferentes circunstâncias e manifestações.
Processamento
Como já admiti na minha primeira participação nesta rubrica, a fase do processamento nunca me ocupa muito tempo. Embora considere que seja um complemento ao processo criativo e fulcral para o resultado final, procuro sempre dar-lhe a maior atenção, mas sem despender largos minutos, nunca ultrapassando meia hora em média por fotografia.
Relativamente ao ficheiro original de captação da imagem, optei por fazer alguns procedimentos elementares de edição, aumentando em um stop a exposição, acrescentando contraste e textura para atribuir dinamismo, e, por último, ampliando a vibração e saturação.
Despois de cada saída fotográfica, procuro, ainda nesse dia ou imediatamente a seguir, visualizar os ficheiros e começar o processamento das imagens selecionadas, dando assim continuidade ao sentimento vivido no terreno. Contudo, na maioria das vezes, a edição final nunca surge logo nesse momento, pois prefiro esperar alguns dias para contemplar, de uma forma desapegada, a fotografia em diferentes dispositivos e até em distintos estados emocionais.
Configurações da câmara
Câmara: Fujifilm XT4
Objetiva: XF 16-55mm F2.8 R LM WR
Distância focal: 50mm / Exposição: 1/100seg / Abertura: F6.4 / ISO: 400 / Sem tripé